E cá vamos andando...

...sem melhoras. O país mergulhado na euforia apática do Euro e a crise económico-social cada vez a alastrar mais e mais. No que me toca preocupa-me bastante mais a crise. Não é que não me vá sentar logo em frente à televisão a torcer por Portugal, não é que não me deixe envolver pelo espírito idioto-patriota que transborda de cada português (bom... bandeirinhas na janela e no carro não ponho) mas preocupa-me muito mais não saber o que fazer para mudar alguma coisa.

O povo tem a força, é bem verdade, quando se unem esforços não há impossíveis e é certo que se todos os prejudicados pela subida do preço dos combustíveis se limitassem a não consumir nem uma gota de combustível não tardaria mais que 2 ou 3 dias para que alguma coisa fosse feita. Se todos decidissemos um dia andar de transportes públicos, por certo a rede mostraria as suas insuficiências e o país sentiria o porquê de tanta gente não dispensar o transporte privado. Se todos decidissemos não trabalhar mais que 8 horas, não receber menos do que é justo, não pactuar com reformas milionárias obtidas em poucos anos, certamente tudo seria diferente. A prova está no protesto dos camionistas, que pecou porque visava servir apenas as necessidades das empresas de transportes. Fosse um protesto sério, pelo benefício da sociedade, e eu não me importava de me privar de alguns produtos para apoiar o protesto.

Mas quem é o povo que se une?! É aquele que é capaz de matar por um riacho de água?! Aqueles que aceitam menos 10 para trabalharem mais 20 só para poder subir nas costas do colega? Aquele que conhece não sei quem não sei onde que lhe arranja uma vaga para o filho onde não há vagas para ninguém? Ou aquele que ordena os processos na mesa do chefe de maneira a que o processo do amigo ande mais depressa? Pois é... o mal está no povo mesmo, é nesta hipocrisia absurda em que vivemos, apontando o dedo a quem não faz senão aquilo que gostariamos de ser nós a fazer... pelo simples facto de prejudicar os nossos e favorecer os outros.

Por isso a alternância funciona em Portugal, um dia comes tu, outro dia como eu, e com o tempo o ritmo estabiliza e o barco segue, meio afundado, mas balançando, de forma a que quem se afunda nem sempre está do mesmo lado. Mas o ritmo não estabilizou e cada vez está mais complicado baloiçar o barco e garantir que alguém não se afunda.

Para quem como eu, tenta encontrar emprego por mérito próprio, tenta arranjar o seu lugar sem pedidos ou ajudas, tenta, dia a dia, fazer a sua vida e orientar o seu rumo sem entrar em jogos de pedidos, conhecimentos ou pagamentos, é triste perceber que cada vez mais o lado que se afunda é o nosso, e o lado que fica ao sol é o deles.