Introspecção

Estarei eu a "abichanar"?! Certamente que não!
Hoje é dia de variar, apenas em termos de sons, nada de confusões. Se há coisa sobre a qual não tenho dúvidas é sobre a minha sexualidade e isso deixa-me perfeitamente seguro em relação a estes posts.
Os verdadeiros génios conseguem usar as palavras, os sons, os gestos ou as performances de forma a tocar todo o tipo de pessoas, opções e gostos.

Tenho aquela inveja boa que se sente de quem consegue atingir-nos sem sequer saber da nossa existência. Deve ser óptimo saber que se consegue fazer soltar uma lágrima ou um sorriso alheios com um poema ou uma nota musical que, disparada aparentemente ao acaso, atinge em cheio o desconhecido num ponto sensível.

Cada um de nós por certo já se sentiu tocado assim, ao ler um texto, ao ouvir uma música, ver um filme ou teatro ou simplesmente assistindo a algo que não nos pertence, que não nos é dirigido mas que tomamos como nosso, pelo momento, pela situação ou por simplesmente estarmos com as defesas em baixo. A mim acontece-me a toda a hora... e aconteceu mais uma vez com esta canção.

Em tom de canção de embalar, em perguntas que parecem feitas à medida, descubro neste fenómeno dos anos 80 a preocupação que por vezes parece estar Sempre Ausente no mundo real.

Com a Vossa licença

AAAAAAAAHHHHHHHHHH!!!!

Só me apetece é gritar! Peço desculpa mas há dias assim ou deverei dizer que quase não tem havido dias que assim não seja?

Isto de passar o dia sozinho o que tem de bom também tem de mau... ou então sou eu que só estou bem onde não estou, já lá dizia o genial António. De qualquer forma sempre é um bom motivo para ouvir novamente uma música muito à frente no seu tempo.


As coisas que se descobrem...

...às 4 da manhã quando estamos prontos para ir dormir!

Já ouviram falar do zumbido de Taos?! No original Taos Hum, deve o seu nome à cidade do estado americano do Novo México onde o fenómeno foi detectado pela primeira vez (1991).
Ao que parece 2% da população começou, subitamente, a ouvir um zumbido (som de baixa frequência) constante, dia e noite. Os afectados pelo problema foram designados por "hummers" e ao que parece o ruído é tão incomodativo que provocou o suícidio de alguns dos "ouvintes"*.
É descrito como semelhante ao som do trabalhar de um motor díesel a grande distância e foi investigado por vários cientistas e laboratórios sem que se tenha encontrado uma causa.
Posteriormente o mesmo fenómeno foi detectado em diferentes locais do globo (Suécia, Inglaterra, Japão e outros).

"Meus caros" iluminados cientistas e "hummers" que procuram a origem do zumbido, deixo-vos uma pista: com a quantidade de indivíduos deste mundo que se estão a defecar** para o próximo é normal surja uma ou outra (ou muitas) fuga de gases provocando algum ruído, por certo bem incomodativo***.

*São uns meninos, não conseguem viver com um zumbido... Imaginem lá se tivessem que aturar os "nossos" trabalhadores da recolha de lixo e os seus "silênciosos" camiões ou, mais agreste ainda, tivessem que ouvir uma conferência de imprensa do Vitor Gaspar, isso sim um insuportável zumbido monocórdico que podia ser batizado como Lisboa Fart, não tanto pela sonoridade mas mais pelo conteúdo.

**Ponderei a utilização do termo mais vulgar, cagar, mas concluí que devia manter o nível de escrita a que habituei os meus leitores. Com o devido respeito e porque eu procuro não contribuir para o Taos Hum.

*** A minha segunda hipótese está ligada ao ruído dos motores díesel a grande distância... será que não ouvem mesmo os "nossos" camiões do lixo?!

Desistir

A alegria e energia de outrora fugiram-lhe na passagem dos anos, as certezas e vontades de tempos idos tornaram-se dúvidas e impossibilidades dos dias de hoje. Como areia por entre os dedos, como a água corre para o mar, sente-se impotente para travar a ordem natural dos eventos e caminha, derrota após derrota para um destino que desconhece.
Foram-se os tempos em que provocava inveja pela sua vontade de viver, pela sua luz que transpirava por cada poro, pelo caminho ficaram dias e noites de lágrimas escondidas e gritos abafados.

Nesses dias e noites aninha-se, enrosca-se sobre si mesmo e passeia os seus dedos na pele, procura confortar-se a si próprio, traz à memória os tempos de meninice em que uma massagem da mãe fazia passar toda e qualquer maleita. Adormece na luta de afastar os maus pensamentos... não sonha, ou se sonha não se recorda, ou se recorda depressa o sabor triste do acordar apaga qualquer laivo de felicidade. A água do chuveiro esconde as lágrimas que se soltam, por vezes sem controlo, por vezes sem motivo. Apenas ele e mais algum divino ser em que não crê sabem o que sente, o que passa, o que todos os outros não imaginam.

Respondia por um nome qualquer, por um apelido qualquer, pois o nome pouco importa e o apelido menos ainda. Foi-se apagando a cada dia, pelo desgaste provocado pelas pancadas, trambolhões e carambolas a que o mundo e todos os outros o sujeitavam e a que ele mesmo não conseguia, nem queria fugir.
Iludia-se quando encontrava o mínimo motivo para tal, agarrava-se com unhas e dentes como se desse momento dependesse a sua continuidade, renascia a cada ilusão para depois adoecer e envelhecer muito mais rapidamente do que a vez anterior e terminar, como em todas as outras vezes, prostrado às suas frustações.

Incapaz de reagir desistiu. Hoje, ontem, um dia qualquer, pouco importa. O dia em que a palavra que desconhecia existir manchou definitivamente as páginas da sua vida.

Hora de...

...ir dormir.
As noites até às 5 começam a ser demasiado frequentes... não pode ser assim!
O último a sair desliga a luz e fecha a porta! Boa noite.

"Desabedoria" Baluliana

Quando caídos é de onde menos se espera que surje o apoio para levantar mas também é de onde menos se espera que surje a indiferença.

Este país não é para pobres

Hoje tive mais uma apresentação quinzenal como previsto no código penal que abaixo transcrevo*... como não percebo nada de leis não sei onde se enquadra o crime de "despedido numa restructuração da empresa" mas por certo deve ser grave pois segundo a lei a apresentação periódica só se aplica para crimes com pena até 6 meses.

Mas não me quero desviar do propósito deste post, descrever a situação com que me deparei durante a dita visita ao centro cívico de Carnaxide. Cheguei e estariam umas 6 pessoas (ou deverei dizer "criminosos" como eu?) à minha frente, no cenário habitual onde apenas falta o povo a apupar, lançando impropérios e objectos cortantes aos "criminosos" que se alinham carregando as suas cruzes e coroas de espinhos.
Uns minutos passados e é a vez de uma senhora, que julgo ser relativamente nova mas que está relativamente acabada, acompanhada pelo seu filho de 15 ou 16 anos. Aproxima-se da funcionária que, após uma breve troca de palavras, exclama - A Sra. está a dizer-me que está a trabalhar?!
- Não... são só uns biscates... - retorquiu baixinho a Sra.
- E tem feito busca activa de emprego?!
- Como faço isso?

- A Sra. tem de procurar emprego, enviar CV's, contactar empresas... 4 por mês! Se a chamarem ao Centro de Emprego tem de levar as provas de que o faz.
- Mas como?

- A Sra. sabe usar a internet? 
- O meu filho sabe...
- Então tem de procurar empregos e empresas e enviar CV's...A -  conversa continua por mais uns breves instantes e termina com - Procure emprego e eu vou esquecer o que me disse.Não sei se fui só eu, mas senti um misto de sentimentos estranhíssimo... estava na presença de alguém que, consciente ou inconscientemente, procura enganar o sistema (reprovável), mas também fui confrontado com a realidade da ignorância e talvez do desespero de quem não tem condições para viver. Sim, é bem verdade que desconheço a realidade daquela família, é certo que pode ser simplesmente um acto bem encenado de alguém que explora o apoio social, completamente à margem da lei, mas a realidade pode muito bem ser outra.
A falta de sensibilidade do estado social, de cada um de nós para tornar as regras claras e justas, para informar, para ajudar tal qual se ajuda a velhinha a atravessar a estrada é, em muitos dos casos, o que provoca esta ignorância.

As pessoas são diferentes à nascença, são diferentes na educação, na formação, na forma de encarar as adversidades, nem todos podem perceber uma lei, por mais simples que seja, nem todos entendem que têm de abdicar de lutar pela sobrevivência simplesmente porque assim está decretado por um estado castrador.
Por outro lado, quem já visitou um Centro de Emprego percebe que o atendimento varia de acordo com o utente, não há paciência para "pobres" de formação reduzida, não há predisposição para "ensinar", para receber e "tratar" pessoas que nem sempre são "criminosos", pessoas que sofrem com problemas que possivelmente a maior parte de nós desconhece.

Este país não é para pobres, mas é de probres, pobres de espírito, pobres de personalidade, pobres de justiça e altruísmo. 



*
Artigo 198.º
Obrigação de apresentação periódica
1 - Se o crime imputado for punível com pena de prisão de máximo superior a 6 meses, o juiz pode impor ao arguido a obrigação de se apresentar a uma entidade judiciária ou a um certo órgão de polícia criminal em dias e horas preestabelecidos, tomando em conta as exigências profissionais do arguido e o local em que habita.
2 - A obrigação de apresentação periódica pode ser cumulada com qualquer outra medida de coacção, com a excepção da obrigação de permanência na habitação e da prisão preventiva.

"Desabedoria" Baluliana

Há (muitas) pessoas que passam tanto tempo a olhar para o seu umbigo que nem conseguem ver a merda que se acumula à volta dele.

"Desabedoria" Baluliana

Por vezes é preciso enfiar com os cornos no poste para ter a certeza que ele lá esta.

Palavras soltas

Dor, Amor, Paixão, Loucura, Tristeza, Alegria, Dedicação, Ajuda, Infelicidade, Felicidade, Trabalho, Esforço, Glória, Lágrima, Sangue, Pele, Calor, Gesto, Chuva, Terra, Areia, Pedra, Barreira, Escalada, Caminhada, Epopeia, Sofrimento, Passo, Ferida, Lama, Sujidade, Lixo, Brilhante, Carne, Admiração, Traição, Solidão, Conforto, Raiva, Revolta, Grito, Chão, Buraco, Sorriso, Morte, Luz, Sabedoria, Experiência, Corte, Abraço, Euforia, Prazer, Tentação, Paraíso, Impossibilidade, Improvável, Inexistente, Incoerente, Doença, Terminal, Magia, Viagem, Comboio, Queda, Desaparecimento, Distância, Céu, Mar, Frio, Gelo, Arrepio, Sentimento, Sol, Nuvens, Lua, Escuro, Apagado, Brincadeira, Jogo, Sério, Verdade, Realidade, Dura, Intenso, Gemido, Sentido, Beijo, Mordido, Apulhalado, Rasgado, Despedaçado, Inteiro, Firme, Árvore, Idosa, Gigante, Resistência, Velho, Podre, Estragado, Lamento, Perfeição, Palavra, Solta.

O que te diz cada palavra?

Frangamente!


Simplesmente genial! Gostava de conhecer o erudito que sacou da cartola esta assinatura... Espero que não tenha feito a adaptação para negócios de carnes de porco porque isso seria frangamente mau.

Entrega

Sente no toque dos dedos o caminho que lenta e suavemente desenha por entre o corpo do seu desejo. Escuta o respirar que quase a medo se solta e perto, muito perto, capaz de sentir o calor que dela emana, segura o mais puro dos instintos. Num jogo perigoso que provoca eloquente reacção controla-se, coloca o dedo indicador sobre os seus lábios e afasta-se o bastante para que entenda que não vai mais longe, deixando-se ficar suficientemente próximo para que entenda que irá até onde ela quiser. Observa. Fixa os seus olhos em cada pormenor da sua aliada do prazer. Gosta. Adora. Ama. Os seus olhos brilhantes de vontade deixam-no desarmado. Uma palavra basta para que todas as suas defesas se desmoronem. Resiste por enquanto, qual condenado no corredor da morte. Implora em silêncio uma palavra, um gesto, um convite, um consentimento. Em breves segundos passa de caçador a presa. Entrega-se à exploração, a ser explorado. Sente-se descoberto quando o seu corpo é desenhado pela sua língua. Respira fundo. Geme. Num último gesto de resistência segura-lhe a cabeça pausando a viagem de destino definido mas logo se resigna, não há regresso. Rende-se. Entrega-se num gesto firme indicando o fim do percurso, indicando o fim da fuga. Liberta-se, sujeita-se ao desejo que por ela sente, ao desejo que ela por si sente. Retalia na mesma moeda. Sente o seu sabor uma, e outra, e outra vez. Deixa-se saborear uma, e outra e outra vez. Sôfregos, como se apenas alguns segundos restassem, como se o jogo inicial lhes tivesse roubado demasiado tempo. Quais animais saciando a sua fome e sede seguem num movimento frenético de paixão e loucura. Percorrem os manuais mais ousados e rompem os limites desconhecidos.
Procuram-se. Encontram-se. Bebem-se. Comem-se. Abraçam-se. Fundem-se. Amam-se.


Concentram-se no momento, o passado começou ali, minutos antes, o futuro está à distância de um novo êxtase.