É Natal, é Natal...

... laaa la la la laaaa...
Pois é. Cá estamos de novo nesta época de alegria e festividade, onde os mais nobres sentimentos florescem, a compaixão e a solideriedade brotam das almas mais fechadas e frias, as famílias se reencontram trocando gestos de amor.

As instituições de ajuda procuram a todo o custo arrecadar preciosos fundos para subsitirem mais um ano, o Banco Alimentar pede conservas, a Cáritas pede leite, não sei quem pede ajuda para a criancinha doente, não sei quem mais suplica por uma mão amiga e nós, todos nós, multiplicamos e vemos multiplicar os apelos, fazemos eco dos mesmos e é tudo bonito e caloroso até que chegamos a dia 26 de Dezembro...

E acabou-se. Bem... embora lá fazer o que sempre fizémos e borrifar-nos em todos os outros. Acabou a época lamechas. Dia 24 ao final da tarde passámos por aquele sem abrigo de olhos tristes e mão estendida  e não resistimos a retirar umas moedas do bolso. Fomos mesmo até ao café mais próximo e comprámos uma pequena refeição rápida que lhe saciou a fome. No dia 26 de manhã, passámos pelo mesmo sem abrigo que nos sorriu, como resposta viramos a cara e fingimos que ele não existe.

Afinal de contas esta é a época da hipocrisia. A época de fazer parecer o que não se é. A época do peso na consciência por tudo o que não fazemos durante o resto do ano. Ou mesmo a época em que nos voltamos para a ajuda a estranhos por não termos conseguido, ou querido, prestar esse mesmo apoio a quem de nós está mais próximo.
Mas só dura uns poucos dias. Depois... Ahhh depois... Depois é a merda de sempre e voltamos a ser os merdas de sempre.

Quanto às instituições, louvável o trabalho que desenvolvem mas, já pensaram quem mais ganha? Vejamos...
Em primeiro lugar, as cadeias de supermercados que se associam aos peditórios (por exemplo). Todos os produtos adquiridos revertem em lucro para essas cadeias e poucas são aquelas que "oferecem" parte desse lucro às mesmas instituições de ajuda com que colaboram.
Depois vem o estado, que poupa imenso ao não prestar o serviço que lhe cabe por obrigação e para o qual todos contribuimos na forma de pagamentos à segurança social. Por outro lado arreacada ainda um valor exorbitante em IVA dos produtos recolhidos e pagos por nós.
Por último, as instituições, elas mesmo que recebem fundos do estado (de todos nós) para desenvolverem uma actividade não fiscalizada e com benefícios fiscais significativos.
A verdade é que não acredito em boas acções deste tipo, a verdade é que prefiro as minhas boas acções onde tenho retorno imediato.

Teoria da conspiração? Talvez... Péssimismo? Talvez sim, talvez não... Acredito que a hipocrisia tem os dias contados e talvez para o ano, ou talvez daqui a muitos anos sejamos todos mais nós durante mais tempo ao longo de cada ano.