Maré negra...

Cada vez que penso na expressão que escolhi como título desta história lembro-me sempre de uma "história de quadradinhos", julgo que da turma da Mónica, em que um personagem negro (também aqui sem certezas, penso ser o Pelezinho) se debatia com uma crise existêncial, desabafando com a professora sobre as variadas conotações negativas atribuídas à cor negra.
A professora pacientemente enumerou exemplos de coisas positivas que eram negras, por exemplo o quadro negro da escola, o petróleo negro que permite o funcionamento de tanta coisa, etc, etc, etc... No final, já com o jovem mais animado, a professora remata com "Vê, você estava apenas atravessando uma maré negra..."

Se não era bem assim, ou se não era da turma da Mónica ou mesmo se não eram estas personagens a ideia era esta. E, mesmo de forma pouco precisa, esta história surge-me sempre que vejo ou ouço a expressão "maré negra".
E porquê toda esta conversa? Bom... estou como o Pelezinho. Numa maré negra.

Se em tempos bastava pensar na história para aligeirar o pensamento, hoje em dia a coisa já não é tão linear. E eu sei os riscos de entrar numa espiral negativa, pessimismo atraí coisas negativas, optimismo atraí positivas. É uma lei mais do que comprovada na prática. Não que não aconteçam coisas más a optimistas, mas a atitude positiva permite ultrapassar rapidamente os problemas e até reduzi-los à sua insignificância.
Pelo contrário, uma postura mais pessimista aumenta os problemas a níveis ridiculamente insuportáveis, não resolve e acumula o que em pouco tempo se transforma num fardo demasiado pesado para qualquer pessoa.

Não me vejo como pessimista mas o certo é que os pequenos problemas em que tropeço têm sido demasiados e demasiado concentrados no tempo. Um pequena pedra no caminho afasta-se facilmente mas muitas pequenas pedras, atiradas em simultâneo para o caminho bloqueiam-nos a passagem.

As pessoas não param de me surpreender...

..pela negativa.

Não haja dúvida que o que é verdade hoje é mentira amanhã e vice-versa muito graças à fraca personalidade de muitos.
Será muito errado pensar que vivemos num mundo de invertebrados?!

Há dias assim

Do cansaço acumulado, do stress do trabalho (ou stresse ou mesmo estresse como pretendem que se escreva na nossa língua) ou mesmo da dura tarefa que é viver resultam dias assim.
A pressão imensa sobre a forma abstrata de peso no corpo e mente esmaga-nos. Resiste-se como se pode, luta-se carregando num esforço inglório em cada tecla do computador, resolvendo puzzles de pouquinhas peças que assumem a dificuldade máxima num cérebro que queima um pouco mais a cada segundo. Na garganta um nó imenso sem motivo ou com todos os motivos.
No email, no telemóvel, ao lado, em frente ou do outro lado da sala solicitações e pedidos alheios às dificuldades que se sentem.
No email, no telemóvel, ao lado, em frente ou do outro lado da sala não chega uma promessa de ajuda. Não surje uma mão amiga que por não ser pedida tem o valor de sentir o que nem sempre é fácil sentir - as dificuldades de um amigo.
Fugir é o remédio, ou não. Conduzir a terapia. O ar fresco do final de dia entra pela janela e espanta cabelos e, numa esperança pouco segura, espantará também as agonias. Foge-se mas fogem junto todas as causas que nos faze fugir e como diz a canção (enorme canção) só se está bem onde não se está.
Convivemos, nos mínimos, nota-se a agonia, sabe-se da tristeza mas de nada vale saber sem ter solução.
Na queda de um som, na passagem de uma imagem ou de um vídeo, na frase solta dita para todos e para ninguém, solta-se finalmente a alma e o desabafo toma forma de lágrimas que não solucionam mas ajudam.

Há dias assim onde o desabafo é com os próprios botões ou com mais uma gota, uma simples gota de água que mergulha no anonimato entre a imensidão do oceano. Há dias demais assim...