Novo Testamento nas palavras de um... ignorante

Hoje decidi lançar-me para fora de pé e vamos lá ver se vou conseguir nadar o mínimo para me safar.

Embora tenha recebido uma educação de clara influência católica cristã, tomei um caminho que me afasta do pensamento católico, não me aproximando de qualquer outra religião. Com a idade e o desenvolvimento de um pensamento próprio optei por uma postura mais aproximada do ateísmo. Mas também pode ser do agnosticismo... eis que me surje a dúvida, ateu ou agnóstico? A verdade é que não acredito na existência de um ou mais Deuses, pelo menos não na forma que nos são apresentados pelas várias religiões e isso levar-me-ia a considerar-me ateu. Mas, por outro lado, não descarto a hipótese de existir uma ordem superior que "governe" o universo, no entanto, a existir será suportada por regras científicas passíveis de serem provadas e testadas e não por regras divinas que fogem à prova científica. Ciente da limitação humana, que se mantem até aos dias de hoje, de provar qualquer uma das coisas, estarei assim na posição agnóstica, isto é, a existência ou a sua negação do que seja não é passível de ser fundamentada.
De qualquer forma, e porque não gosto de ter posições de "nem sim nem não", prefiro catalogar-me com ateu céptico. E o que é um ateu céptico? Não... nada tem que ver com fossas até porque não escrevi com s! Um ateu céptico é aquele que, como eu, considera improvável a existência de um ou mais Deuses. Eu acrescento apenas que a existir, será, a seu tempo, devidamente justificada pela ciência.

Dito isto, percebem que a minha praia não é a Sagrada Bíblia, nem qualquer dos temas com ela relacionados. Para mim, é mar alto, com bastante ondulação e por este motivo ficarei em breve sem pé.a
Assim, peço desculpa desde já por qualquer erro ou lapso que introduza no restante deste texto, devo salientar que os excertos que utilizo foram retirados, na versão portuguesa, da grande rede (versão da Bíblia Sagrada, http://www.bibliacatolica.com.br/biblia-sagrada/) pelo que qualquer erro de tradução não é da minha responsabilidade.

Efésios 6:8
"Vós sabeis que cada um, escravo ou livre, receberá do Senhor o bem que tiver feito."

Ora bem... comecemos pelo Novo Testamento, Epístola aos Efésios do apóstolo Paulo, capítulo 6, versículo 8. Garante o Paulo, e suponho que em nome do Senhor, pelo qual deverá ter sido devidamente mandatado, que este último nos recompensará de todo o bem que fizermos, sejamos escravos ou livres. E então pergunto eu... quando é que pensa recompensar-me?! É que eu já fiz umas quantas boas acções ao longo da vida e tenho a sensação que existe um bom crédito neste aspecto que me dava jeito receber. Por outro lado, dado que é igual ser escravo ou livre nem tenho que me preocupar com definir a minha condição segundo esta classificação, o que seria uma tarefa complexa.
Pergunto também, de que forma se materializa a recompensa? É que na verdade dava-me jeito que fosse em euros, mas se assim não for possível, também não via com maus olhos alguma garantia em termos de saúde a que juntaria um pouco de respeito e consideração dos restantes humanos relativamente a mim próprio, ficaria por certo satisfeito. Mas tinha que ser em tempo útil, se é que me entendem, não era preciso ser já amanhã, não quero apressar o Senhor, mas digamos, lá para a próxima semana, ou na outra já era bom.

Gálatas 6:9
"Não nos cansemos de fazer o bem; se não desanimarmos, quando chegar o tempo, colheremos."

Desta feita a Epístola aos Gálatas, também redigida pelo apóstolo Paulo. Bom... não é que eu me canse de fazer o bem, tento pelo menos fazer o melhor que posso, mas quanto à parte do desanimar... vamos lá ver, será o Senhor capaz de me dar uma previsão de quando chegará o tempo? Não poderíamos fazer isto por épocas de colheita? Não é preciso ter acesso à totalidade da colheita ao mesmo tempo, mas pelo menos parte dela? Fazia várias colheitas em tempos distintos... era mais simples não desanimar... só por isso, ou será que em termos de ordem e logística divina isto seria muito complicado?

 Efésios 2:10
"Porque foi Deus quem nos fez, e em Jesus Cristo fomos criados para as boas obras que Deus já havia preparado, a fim de que nos ocupássemos com elas."

Mas fez todos?! Todinhos? É que há por aí uns quantos (uns quantos que são muitos, muito mesmos) de quem eu não admito ser irmão nem à lei da bala! Pois claro, boas obras é o que a gente mais vê por aí. Se Deus preparou boas obras como é que chegámos a este ponto?! Quem foi o sub-empreiteiro que estragou isto tudo? De qualquer maneira, e como Deus nos fez a todos, em última análise é Ele o culpado desta desgraça. Alguma coisa falhou. Ou sairam muitos com defeito ou as obras não eram assim tão boas ou as duas coisas juntas e isso explicaria muita coisa.
Só pergunto... haverá alguma forma de corrigir isto? Estava a pensar qualquer coisa como desfazer e começar de novo mas agora em três meses em vez de sete dias... só para ter a certeza que fica melhorzito. Obrigado.

Hebreus 10:24
"Tenhamos consideração uns pelos outros, para nos estimularmos no amor e nas boas obras."

Versículo 24 do capítulo 10 da Epístola aos Hebreus, divergem as opiniões sobre quem o seu autor sendo que há quem diga terá sido o apóstolo Paulo embora existam opiniões de que terá sido outro autor.
É minha impressão ou o pessoal salta sempre este versículo?! Ou saltam este texto ou o mundo e o comportamento das pessoas que o habitam demonstram que a religião católica não tem praticamente seguidores. Partindo do princípio que um católico deve ler e cumprir a palavra do Senhor, que a palavra do Senhor foi transcrita, através do cunho de diversos autores, para a Bíblia Sagrada, então será da mais elementar lógica concluir que qualquer católico deveria ter consideração pelos outros. Perceberam?! Tenhamos CONSIDERAÇÃO UNS PELOS OUTROS!!!! A questão da estimulação no amor e nas boas... obras. Bom... isto acredito que ainda se vá cumprindo com maior ou menor dedicação e jeito. Agora mesmo aqueles que se estimulam no amor muitas vezes não têm qualquer consideração pelo próximo, em especial por aquele ou aquela a quem estimulam...
Não quero, no entanto, desviar-me do ponto fundamental deste versículo e esse é consideração. A verdade é que cada vez mais esse conceito, assim como todos os outros que lhe estão associados, está a cair em desgraça. Cada vez mais desconhecidos ou colegas e até amigos e familiares atropelam a dignidade, desconhecem o respeito, atiram ao lixo a dedicação com que deveriam tratar-se mutuamente.
E neste caso não estou fora de pé. Sei do que escrevo. Sinto o que escrevo.

Resta-me dizer que procuro respeitar e compreender qualquer religião ou corrente de pensamento. Procuro respeitar todos, pensem ou não como eu nos mais variados temas. E se aqui me dediquei a comentar algumas passagens bíblicas, usando alguns comentários menos próprios, não é apenas pela piada, muito menos procura por desrespeito, é porque existem na Bíblia, assim como provavelmente em outros livros que servem de guia a outras religiões, ideias que estão a ser esquecidas dia após dia e que por certo mereciam ter outra leitura e peso na sociedade actual.

Gala dos Bimbos

Venho por este meio admitir que errei. Errei quando disse que a entrega da Bola de Ouro não ia afectar a minha vida. Nada mais errado... Admito-o.

Não que o facto seja hoje mais importante que ontem mas decidi libertar a minha veia "Cláudio Ramos" (as coisas que eu digo... se tivesse uma veia assim mandava-a extrair!!!) depois de não me sair da cabeça o hilariante espetáculo a que assiti ontem.Vocês por acaso repararam na roupinha do Messi?!?! Claro que sim... possivelmente é tão falado hoje como a própria da entrega do prémio ao Ronaldo.
Sinceramente desconhecia que o consultor de moda do Messi fosse o Vitor Hugo Cardinalli... Dizem para aí que o pequeno grande jogador argentino terá sido contratado pela Telepizza mas não me parece credível pois o vermelho do fatinho não coincide com o da marca em causa. Na realidade Messi e a sua esposa combinaram as cores para que juntos resultasse no Blau Grana do Barça... será que ninguém percebeu que o fatinho azul escuro e o vestido vermelho resultaria na mesma combinação mas com um pouco de mais gosto?!

Mas CR não ficou muito atrás. Mais uma vez surgiu com um fato cinco números abaixo do seu tamanho. Se a cerimónia tivesse durado mais dez minutos penso que teria desmaiado por falta de oxigénio no cérebro. Por falar em cérebro... belo discurso de agradecimento, hein?! Nota-se que há trabalho de casa. Nota-se trabalho de uma equipa que o prepara para a forma como tem que se apresentar e falar. Nota-se especialmente porque Ronaldo faz questão de "denunciar" isso mesmo cada vez que abre a boca. Só lhe faltou dizer qualquer coisa como "disseram-me que ficava bem falar do Eusébio e do Mandiba por isso aqui vai..." ou ter uma check list onde fosse riscando as palavras-chave que lhe foram aconselhando.
Hummm.... Família... check... Colegas de clube e selecção... check... Quem me dá o guito... check... Blatter e Fifa... Não consta... Adeptos e fãs... não consta... Portugueses... não consta... Sporting... Quem?!?! Eusébio e Mandiba... Quem?!?! ok... check...
Mas compreende-se... eu também ficaria nervoso naquela posição e ainda por cima apertado até ao limite do impossível por um fato bem lustroso.

A salvar a situação surgiu o anão da série Fantasy Island (ilha da fantasia em português). Não se recordam ou não conhecem?! Pesquisem... senão não tem piada.
Estranho foi não ouvir o tocar dos sinos e o célebre anúncio "the plain! the plain!".
Mas surgiu e atraiu todas as atenções, CR emocionou-se, não só com o filho mas penso que também por ter visto as figuras da mãe que na plateia chorava baba e ranho e se assoava ao lenço ou écharpe ou lá o que era aquilo. As primeiras palavras de CR terão mesmo sido "porque é que trago a família a estes sítios?!?!" mas nessa altura o micro estava ainda em off.
Pelé, que está habituado a lidar com pessoas bem mais jovens que ele mas não tão jovens... daí ter tentado não sei bem o quê com a criança, elevando-a ao nível da bola de ouro onde o pequeno fixou o olhar pensando "Dasse... a sorte que eu tenho! Olha se tivesse ficado com a minha mãe pé-de-chinelo nos states!".
Blatter esteve durante toda a cerimónia de entrega do troféu numa posição "apagada", não tenho a certeza mas parece-me que CR nem o cumprimentou... e suponho que não seja nada de anormal uma vez que os Reis, penso eu, não cumprimentavam os bobos da corte.

Finalizando, parabéns ao CR, parabéns ao Messi também e parabéns ao Ribéry por ter conseguido ter sucesso com uma cara daquelas... mesmo que, por vezes, tenha de pagar para obter tal sucesso.
São excelentes jogadores, fazem as delícias de muitos adeptos mas... por favor... CR, não abras a boca, Messi, não uses essses fatos, Ribéry, não me apareças de repente numa qualquer rua escura.2

Às 13 horas e 13 minutos do 13º dia do ano

O país, ainda ébrio pelos acontecimentos desportivos do fim-de-semana, aguarda ansiosamente por mais um sucesso de um dos seus "filhos" mais queridos.
Como diz o povo, Rei morto, Rei posto... e eis que na ressaca da despedida do "Rei de quase todos nós", procuram uns quantos, talvez mesmo a maioria, fazer crer os restantes poucos que o melhor que pode acontecer hoje é um jogador de futebol português ganhar pela segunda vez o suposto maior galhardão que se pode alcançar durante a sua fugaz carreira.

Na verdade, pelo menos na verdade da minha opinião, é que este espetáculo é exagerado e perigoso. Tão perigoso quanto um dia de Verão cheio de sol e temperaturas altas pode ser neste jardinzinho alcatroado à beira-mar, diria, abandonado e não plantado. E porquê? Simplesmente porque se invertem as prioridades.
A ideia de estarmos fartos de novidades tristes, de notícias sobre a crise, da própria da crise e portanto devemos abraçar cada uma das pequenas alegrias que surgem, mesmo que tenhamos de fazer nossas as alegrias e as dores alheias, é assustadoramente perigosa. O que muitos defendem é que não devemos olhar para os factos negativos, que não devemos desperdiçar energias com os aspectos negativos, devemos isso sim focar-nos nos aspectos positivos pois são esses que nos permitem seguir em frente.
Pois bem... o Ronaldo ganhar uma bola de ouro a mim deixa-me sem cuidados. Não que não sinta alguma pontinha de orgulho no jovem português, até porque foi "criado" no meu clube. Não que não fique contente por esse facto, mas caso hoje lhe seja entregue a muito falada bola de ouro será que amanhã poderei responder a todos os meus problemas com "Sim, sim... mas o CR é o melhor do mundo!".

Por redução ao absurdo, um cliente questiona-me sobre o atraso na execução de um projecto e, durante a semana passada eu poderia responder "Pois é verdade... estou 2 meses atrasado em relação ao que lhe tinha dito mas... o desaparecimento do Eusébio é uma grande tristeza para nós... e tão bonito que foi ver o país unido em redor das cerimónias fúnebres!".
Caso o CR ganhe o prémio poderei simplesmente responder "Grande Ronaldo hein?! Agora só falta ganhar o mundial!"
Se esta abordagem é assim tão correcta porque não fazemos o mesmo em relação aos nossos compromissos com o exterior?! Vinha a troika e os nossos ministros apenas tinham de dizer "O Eusébio é o nosso Rei!" ou "O melhor jogador do mundo é português!".
Estas serão as questões mais mediáticas mas por certo poderiamos arranjar outras como "Metade das porteiras de Paris são tugas!" ou "As vidimas em França só acontecem porque há n tugas que nelas trabalham!" ou ainda "O presidente da ComissãoEuropeira é tuga" (ou já terá sido...).

O caminho para o sucesso encontra-se analisando a situação actual, avaliando os problemas, focando-nos no que está mal não para ficarmos atolados nos problemas mas sim para encontrar soluções. E só se encontram soluções quando se conhecem os problemas. Podemos saber para onde queremos ir, mas se não soubermos onde estamos dificilmente encontraremos o caminho. Experimentem questionar o Google Maps sobre o melhor caminho para um qualquer sítio no globo sem lhe fornecer a origem... não resulta, certo?
Há pessoal que defende que devem continuar a tentar... por isso têm duas opções, ou continuam aí a clicar que nem doidos na tecla de return esperando que o Google Maps responda ou procuram entender onde estão, relativizando tanto os problemas como as alegrias, prioritizam correctamente as questões e deixam-se de elevar como se não houvesse amanhã os factos, felizes sim, mas de menor importância, que vão acontecendo.

Ainda sobre a partida de Eusébio. Tenho de ser sincero... lamento, respeito imenso as suas qualidades como desportista e como homem, respeito a sua lealdade a um clube que, como é sabido e assumido, nem sempre o tratou como merecia mas... não é da minha família e não é do meu clube.
É óbvio que se notabilizou internacionalmente a um nível que até então era impensável para um português (ainda para mais um português nascido em Moçambique) e que só 35 anos depois voltaria um compatriota a alcançar. Levou o seu nome a muitos cantos do planeta, arrastando com ele o nome do seu clube e do seu país, numa época distante da globalização e do imediatismo actuais. Certamente é de louvar e respeitar tal fenómeno, como é de louvar o fenómeno Figo, o fenómeno Mourinho e o fenómeno Ronaldo. Agora... Portugal não se pode resumir a Futebol e Fado (e a Deus). Que isto não nos faça esquecer outros nomes, outras conquistas de igual ou superior importância, que colocaram Portugal nas bocas do mundo.

Meus caros... o país está tristemente abandonado ao seu destino, ou pior ainda, abandonado às mãos de uns quantos que controlam o seu destino e os nossos passos, filtram a informação a que temos acesso e comandam os nossos destinos e as nossas acções e reacções.
Adormecer no embalo das grandes pequenas vitórias individuais que tomamos como de todos nós é apenas mascarar as nossas próprias frustações. Importante é lutar por soluções que levem o país a ter mais Eusébios, Figos, Mourinhos e Ronaldos mas não só no futebol e não só como acontecimentos pontuais. O sucesso do país passa pelo crescimento sustentado, pelo trabalho focado nos resultados mas consciente dos problemas para adoptar as soluções correctas.

Quando Portugal se despede de um ídolo como Eusébio a dor é muito superior porque se sabe que como aquele acontecem poucos por este cantinho, e acontecem pouco não tanto pelas características do próprio mas mais pela incapacidade do país de criar estruturas nas mais diferentes áreas que permitam não deixar ao acaso o surgimento de novos notáveis.