Certo é que, nos meus primeiros contactos com a a grande rede, coloquei online um sítio, medonho por sinal, que intitulei com o pomposo nome de "Balula na net". Por muito básico que vos pareça, transparece todo o meu pragmastismo e objectividade. Era efectivamente um documento pessoal, com informações pessoais e, para vosso espanto, estava efectivamente na net.
Já lá vão uns 20 anos! Talvez um pouco menos. Ainda não havia blogs, nem facebooks, nem googles plus... Os chats eram programas estranhos que corriam num ecrã escuro de um terminal, em letras de cor verde ou laranja, com salas virtuais, por vezes fundidos com um qualquer jogo que dependia fortemente da nossa imaginação para se tornar realmente interessante.
A grande rede era povoada por enormes directórios de ficheiros, textos aos quilos, divagações técnicas, estudos variados embrulhados em designs pouco ou nada atractivos, cores básicas e efeitos ainda mais básicos.
Aí comecei a ser Balula para alguns amigos. O nome nunca ganhou maior dimensão ou peso que o meu verdadeiro nome, felizmente digo eu e abaixo explico porquê, mas passou a ser o eu virtual, a minha assinatura digital. De tal forma que surgiu quem, utilizando o nome de pleno direito, me questionasse do outro lado do Atlântico sobre a possibilidade de ser seu familiar. Vim por esse acaso a descobrir a existência real de um apelido que eu julgava ter origem na imaginação do meu irmão (a título de curiosidade, Balula parece ser um apelido de algumas famílias da zona de Viseu).
Desde a sua criação, onde surgia na surpreendente frase "Rica maluca! Balula!" dito de uma forma apenas possível de descrever falando, este pseudónimo evoluiu. Passou de brincadeira a assinatura nas batalhas de jogos e recordes quebrados a assinatura do que por aqui escrevinho, passando por nick name em chats e conversas virtuais. Se foi para melhor ou pior... bom, não sei. Se continuará a evoluir... também não sei. Mas hoje dei comigo a pensar, que há coisa que mudam, tempos, cenários, vontades e pessoas também. Mas há outras, que nos acompanham pela vida fora e sem as quais não poderiamos contar a mesma história.
Nesse tempo, eu via os meus amigos quase todos os dias, e quando não via trocava uma chamada e dois dedos de conversa.
Nesse tempo, eu saía quase todos os fim-de-semanas, e quando não acontecia, os meus amigos ligava a perguntar o porquê.
Nesse tempo, antes de ter carro e ter toda a mobilidade que se possa querer, perdia o último transporte para casa e meio ébrio acabava por passar o resto da noite na casa de um amigo ou amiga que me oferecia guarida.
Nesse tempo, quando se queria acabar uma relação era olhos nos olhos, com as palavras a escorrerem lenta e dolorosamente, quando nos chateávamos com alguém não bastava bloquear-lhe o acesso ao nosso perfil.
Nesse tempo era preciso sermos Homens e Mulheres, mesmo que fossemos apenas adolescentes ou pré-adultos.
Nesse tempo, como hoje, eu tenho um nome pelo qual todos me conhecem e a minha assinatura digital nunca poderá a ele sobrepor-se assim como o meu eu real nunca será apagado ou sequer disfarçado por um ser virtual, igual aos muitos que agora povoam os grandes aterros de solidão que são as redes sociais.
Tenho saudades desse tempo... quando era tudo tão mais difícil, quando comunicar não era coisa banal, e de tão pouco banal cada um de nós se preocupava em fazê-lo da melhor forma possível.
Não tenho nada contra a evolução tecnológica e facilidade de comunicação, até porque nela baseio a minha vida profissional. Mas como em tudo, pode ser usada de forma correcta ou incorrecta e temo, pelo que vejo e pelo que sinto que estejamos a ir no caminho errado.