Um ano de vazios

Não sei se deva dar-te os parabéns... pode ser que os próximos 365 dias tenham um saldo mais positivo.

Parabéns Balula!

Nota: Vejo-me forçado a interromper o evoluir da história que tem dominado as publicações deste meu cantinho, por motivos bem mais reais... ou talvez não...

Governação ou espoliação?

Efectivamente este país deixou de ser um país.

É o feudo de alguns, suportado por leis e orçamentos de estado ardilosamente desenhados para garantir a segurança de muito poucos e retirar qualquer esperança de sobrevivência a muitos outros.

Consta que Portugal foi dos primeiros países a abolir a escravatura (facto discútivel até porque a escravatura no Brasil só foi abolida depois da independência desse país), assumindo que seja quase verdade, Portugal arrisca-se agora a ser o primeiro país a restabelecer condições para que a escravatura prolifere.

As linhas principais das "novas" leis relacionadas directa ou indirectamente com o trabalho condicionam a liberdade e direitos das pessoas não só no que toca à sua carreira profissional e respectivo rendimento como à sua dignidade e direitos sociais. Procura-se o trabalho barato ou mesmo gratuito, condicionando o direito à revolta individual e/ou colectiva à necessidade de sobrevivência da pessoa e seus dependentes.Os desempregados são tratados como criminosos, com obrigações em tudo idênticas a medidas de coacção que não as mínimas. O direito ao trabalho e a uma remuneração condigna deixou, faz tempo, de existir.

O ataque aos rendimentos, em sede de IRS e Segurança Social, assim como a enorme carga fiscal directa e indirecta a que os portugueses estão e serão sujeitos reduz, grandemente, a possibilidade de garantir o património pessoal e, muito possivelmente, o nosso pão. A simples posse de um automóvel ou de uma habitação comporta um custo impensável para muitos de nós.

As alterações no IMI e respectivas avaliações visam atacar aqueles que, legitimamente, adquiriram habitações e outros prédios pensando em termos de futuro, investimento e/ou simplesmente melhoria das condições de vida, e os registaram, não tendo outra hipótese, em nome próprio, sujeitando-se aos encargos daí decorrentes. Os que realmente muito têm conseguem, legalmente ou não mas certamente imoralmente, libertar o seu património dos citados encargos, registando as propriedades em nome de empresas sediadas em offshores.

A necessidade de venda de propriedades por parte dos que menos podem (e não precisam de ser pobres, porque esses há muito que nada têm), irá centralizar a posse do património imobiliário nas mãos de quem pode, e esses são cada vez menos.

O mesmo caminho seguem as empresas públicas, também património de todos nós e que, enquanto na esfera pública, devem ter como objectivo a garantia dos direitos universais dos portugueses. A água, a energia (luz, gás, combustíveis), os correios, a saúde, a educação, a justiça, entre outras são pilares basilares da autonomia e independência do país. São pilares basilares dos direitos de todos nós.

O caminho de venda do país e do seu património a retalho vai, necessariamente, levar-nos a perder os direitos fundamentais que, ilusoriamente, davamos por adquiridos.

O aumento de impostos não é justificável sabendo que não servirá para suportar mais e melhores serviços públicos. Não é justificável sabendo que há mais doentes a morrer por falta de assistência no SNS, que há mais alunos excluídos do sistema de ensino nos diferentes graus, que perdemos a protecção e o direito a bens essênciais.

Deveriamos pagar impostos para o bem comum, não para pagar dívidas que outros contraíram ou gastos absurdos em PPP's e negócios inacreditáveis e ruínosos para o país.

Restam-nos poucas hipóteses, sair do país e esquecer que algo nos liga a este canto da Europa ou erguer-nos contra a violência a que estamos a ser sujeitos. Defender-nos do saque brutal a que estamos a ser sujeitos.Alternativa existe, depende de nós. Leis alternativas existem, não existe é vontade para as aprovar e executar nem sequer para as ouvir.

Não sou detentor da verdade universal, haverá muitos problemas complexos a resolver dos quais eu não tenho sequer capacidade para compreender mas existem condições básicas para fundar um sistema justo e garante dos direitos de todos os portugueses.Quem nos governa e quem nos gorvernou, não permite que a justiça funcione, não permite que o estado seja sustentável, não permite que o país cresça para todos.

É hora de dizer basta. É hora de uma revolução, pacífica mas efectiva. É hora de tomar as rédeas do nosso destino e acabar de vez com lobbys e grupos de poder.

Alternativas podem ser estas e muitas outras:
Aprovação de leis anti-corrupção, de nacionalização ou não-privatização das áreas públicas relacionadas com os direitos universais de acesso a bens e serviços, responsabilização penal (realmente dura) de governantes e gestores pelo que de mal façam no âmbito público, criminalizar duramente actos como a "cunha" ou "a troca de favores" no âmbito público ou privado que minam este país, suporte ao renascimento e desenvolvimento da produção nacional nos sectores primário e secundário, incentivo público à criação de empresas mas com o devido no apoio no "desenho" do negócio assim com no controlo da posterior gestão, controlo e previsão da evolução do mercado laboral agindo em conformidade nas áreas de formação disponíveis para os jovens (deixar de formar pessoas para o desemprego, deixar de iludir os jovens e seus pais, interiorizar definitivamente que nem todos temos de ser doutores nem isso nos traz mais qualidade), denúncia dos acordos público-privados que comprovadamente sejam lesivos do erário público (acompanhado da respectiva investigação criminal e responsabilização dos envolvidos), avaliação dos quadros do estado com respectivos redimensionamento e redistribuição de acordo com a real necessidade do estado e com a real mais-valia de cada trabalhador para a máquina do estado (temos de uma vez por todas de identificar onde há gente a mais ou a menos, perceber se os excendentes podem ser deslocados para as áreas carênciadas, e identificar quem trabalha, quem realmente faz falta a um estado eficiente e produtivo, não o que se procura fazer cortando a direito naqueles que trabalham e fazem falta e deixando os parasitas intocáveis).

Uma revolução não precisa nem de armas nem de violência, precisa de serenidade, ideias claras, vontade e união. É este o desafio que vos deixo hoje.

Se fosse possível voltar atrás

Fariamos diferente?
É simples responder sim ou não sabendo o que se sabe no momento, mas sabendo apenas o que sabiamos lá atrás? Fariamos diferente?

Coisas há em que dava tudo para fazer diferente.

O arrependimento não faz parte de mim, ou não fazia. Bom... há sempre uma ou outra coisa de que nos arrependemos, mas normalmente coisas pequenas, no fundamental as grandes decisões e opções foram tomadas, conscientemente, à luz do conhecimento presente e isso torna-as legítimas e não sujeitas a arrependimento.
Novas premissas podem alterar o que se possa pensar mas não invalidam as premissas iniciais desde que estas sejam verdadeiras. Complicado?! Será qualquer coisa como a adivinha - "Qual é coisa qual é ela que é cilíndrico e sobe e desce?" - possivelmente estão a pensar correctamente mas, se eu revelar uma terceira característica - "É um produto de cosmética." - não deixam de ser verdade as duas primeiras mas a vossa resposta certamente se alterou.

Posso achar que devia ter feito mais assim ou mais assado mas são geralmente detalhes, acertos que podiam ser melhores ou piores. O percurso, esse, não deveria estar sujeito a arrependimentos. Mas está. E um dia redescobrimos a realidade, desvendam-se os mistérios e damos connosco a desejar amargamente não ter feito ou ter feito outra coisa completamente diferente.

O arrependimento surge após decisões que tomamos baseados numa "irrealidade".
O arrependimento surge porque sabemos que, à luz do que nos era mostrado, nunca iriamos decidir diferente mas, posteriormente, percebemos que o que nos era dado a conhecer era falso.
O arrependimento não é mais do que a raiva da pessoa enganada, é a dor da vítima da mentira.

Voltando à metáfora da adivinha, se a permissa inicial fosse "Qual é coisa qual é ela que é cilíndrico, sobe e desce e tem duas bolas na base?" Novamente iriam errar... mas neste caso as bolas eram só para enganar e aí iriam arrepender-se do pensamento pecaminoso, coisa que não aconteceu por certo na primeira versão da adivinha.

Em conclusão, hoje, há coisas que eu nunca teria deixado acontecer.

Dark Shadows

Ou em português Sombras da Escuridão, é mais um sugestão para uma boa sessão de cinema, enroscados no sofá, mantinha quente e siga.

Por acaso em nada se aproxima do que eu fiz em quanto vi o filme... mas gostava de ter feito. De qualquer maneira, não sendo o melhor dos filmes de Tim Burton, estando talvez uns furos abaixo do habitual para este senhor, é uma pseudo-comédia engraçada de se ver.

Contando com a prestação, mais do que habitual, absolumente inevitável e necessária, do fantástico Johnny Deep é em tudo um filme só possível vindo desta dupla realizador/actor.

Amo-te



Teresa. Uma pérola de 2000 revista pelas comemorações dos 20 anos da SIC. Não que costume ser espectador atento da SIC mas no zapping de hoje foi impossível resistir a rever esta história... apenas possível na ficção. Deliciosa a simplicidade do cinema português.


Ao segundo dia de Outubro

O Outono continua a sorrir com um sol ternurento e carinhoso. Depois de um começo cruel, que nos fez perceber que o Verão tinha mesmo acabado, a meia estação assume-se amena e pacífica como que respeitando a queda das folhas no seu leito de morte e os tons pastel que invadem os campos. Espetáculo lindo, faz-nos acreditar que o merecido descanso resultará num renascer cheio de esperança.

Foi num destes dias, já lá vão quase 4 décadas, que acordei para o mundo. Feliz ou infeliz dia, depende do ponto de vista, certamente me trouxe uma forte dose de nostalgia, ou lamechice como queiram. Embalado pelo doce som das folhas caindo, as minhas cores são as suaves como as da estação e a minha passagem pela vida é como o ciclo que agora tem o seu fim. Nascem frágeis essas folhas. Sem certezas. Lutam pela sobrevivência (mesmo quando parece inevitável a morte), renascem plenas de força e energia, para, aos poucos, secarem, adormecerem e depois, libertas dos braços de quem as quer bem, planarem sobre brisas de incerteza até ao poiso final onde são rapidamente esquecidas.

É a certeza de que o ciclo se auto-alimenta, de que não nascemos sem razão, nem partimos sem motivo que me faz acreditar que ao Outuno, onde esmorecemos e partimos, e ao Inverno, onde a memória se perde, se seguirá uma Primavera onde tudo renasce, e aí poderemos assumir novas formas e alimentar novas esperanças.

Assim sou eu, qual Outuno, uma silênciosa revolução, uma nostalgia constante, um folha em trânsito para o seu leito de morte.

O cair do pano

Hoje é o dia em que deixo de acreditar nas pessoas. Hoje é o dia que tenho a certeza que a mais dócil das ovelhinhas esconde debaixo da sua lã fofa e suave o mais cruel dos lobos.

Devemos contar connosco próprios, devemos acreditar no que somos e queremos e procurar alcançar as nossas metas sem nos apoiarmos em ninguém, sem acreditarmos em bons samaritanos, altruístas de ocasião que, em grande parte das vezes, nos usam para ultrapassar as barreiras com que se confrontam e depois nos largam quando e onde lhes apetece. Pelo percurso escondem-se na sua pele de ovelhinha, mentem, ocultam, apontam-nos o dedo e arquitectam o plano que nos fará cair.

São esses falsos samaritanos, são esses falsos altruístas que nos fazem desacreditar, que nos fazem cair, arranhar, ferir e nos deixam mais frágeis. Mas é importante perceber que é do fundo que renascem as grandes forças. É nas desilusões que encontramos motivos para procurar, não novas ilusões, mas sim "novas" realidades.

Hoje é o dia em que se revelam as caras, as vontades e os planos. Em que se percebe quem é quem, quem fez o quê, quem pensou o quê.

Não se pense que é um processo do dia para a noite. Não se pense que é coisa do momento, de um instante e que se revelou apenas hoje. É um processo longo, que nos abre os olhos. É verdade que é preciso encaixar todas as peças do puzzle para ter a noção da imagem que surge perante nós, mas também é verdade que à falta de algumas peças já temos noção do que nos espera no final. Por vezes procuramos abstrair, desfocar a imagem parcial, acreditar que no fim seremos surpreendidos mas temos de ser mais pragmáticos. Temos de acreditar no que vemos, sejam imagens parciais ou totais. A realidade é o que é e não o que gostariamos que fosse.

Hoje é o dia em que é preciso erguer a cabeça e dizer basta. Levantar os braços e, a pulso, contando apenas com a minha própria força subir, subir ao mais alto dos pontos e deixar para trás tudo o que nos fez cair.