A incontornável apatia do ser

Ou o enorme "estou-me a cagar" do povo português.

Inclino-me mais para a opção que não escolhi para título do post. (e apenas não escolhi para título pelo simples facto de manter algum nível).

Quem navegou pelas redes sociais nos últimos anos, quem ouviu conversas de café, revoltas mais ou menos gritadas pelas ruas, pedidos de punições exemplares aos bandidos que nos governam e ocupam os lugares nos diversos partidos nacionais não imaginaria que ontem, no dia em que entregam ao povo a arma que lhe permite lutar de forma efectiva contra tudo o que lhe esmaga a liberdade, o mesmo povo se tenha, de forma irresponsável, alheado de lutar.

Todos terão as suas razões para não ter ocupado dez minutos do seu dia para colocar uma cruz num boletim de voto. Essas razões serão totalmente válidas para cada um. Mas, meus caros, se consideram o voto uma perca de tempo, se consideram que expressar a vossa opinião, na única forma em que realmente pode ser tida em conta por quem nos governa, menos importante que qualquer outra coisa com que tenham ocupado vosso dia, então... meus caros... devem ter tido um dia em grande. Parabéns.

Eu, infelizmente, não consegui ocupar o meu dia totalmente com coisas super interessantes e muito mais importantes do que votar. Por isso vi-me na obrigação de expressar a minha opinião gastanto cinco minutos, talvez dez, não sei precisar, do meu precioso tempo nesse processo.
Não costumo manifestar massivamente o meu desagrado ou agrado em relação ao estado do país nos Facebooks da vida, faço-o pontualmente e sempre que considero pertinente. Talvez por isso tenha sentido a obrigação, o dever moral e ético mais do que cívico, de fazer uso do meu direito de voto. Como eu uma minoria de portugueses atrassou a sua ida para o Rock in Rio, para a praia ou para o Shopping para o fazer.
Porque os restantes, a grande maioria, expressou de forma clara que "se estão a cagar" é possível que o meu voto tenha caído em saco roto.

Graças a vocês, meus caros abstencionistas, graças à vossa inércia, à vossa irresponsabilidade, os políticos têm cada vez menos vergonha na cara. O políticos sentem que podem fazer tudo sem terem de assumir as consequências.

Venham agora espalhar imagens, artigos e bocas sobre a vossa revolta pelas redes sociais, deixem passar e difundam emails com listagens de injustiças e sem-vergonhas que nos governam, revoltem-se nessa vossa forma cómoda e conformada de se revoltarem e recordem mais um dia em que ficar no sofá a coçar os tomates foi mais importante do que fazer uso do direito de voto.

Puff! Agora desapareci... Puff! Agora apareci!

Um tipo que "espeta" (termo técnico) uns quantos balázios na família ou ex-família, "manda" (outro termo técnico) para o outro mundo duas pessoas e para o hospital outras duas, foge e anda "desaparecido" durante 34 dias, embora, ao que parece, tenha sido visto cumprindo os afazeres normais de um chefe de família, comprar pão, arrumar a casa, etc. Finalmente é encontrado na própria casa em Valongo dos Azeites.

As questões que se colocam agora...

Será que é atenuante ser habitante de Valongo dos Azeites? Parece-me claro, que com toda a propriedade, o senhor estaria com os Azeites no momento do crime.

Demorar 34 dias a capturar o senhor terá sido devido a uma adaptação do conhecido provérbio popular? É que procurar um "Palito" em São João da Pesqueira deve estar muito próximo de procurar uma agulha num palheiro em termos de dificuldade.

Terá sido capturado no dia em que algum erudito das forças policiais deslocadas para o terreno se lembrou, pela primeira vez, de ir bater-lhe à porta?

E se não esteve sempre em casa, será que voltou por se ter esquecido da chaleira de água ao lume?

 Resta-me outra dúvida, ou será mais uma constatação. O senhor teria conta de Facebook? De Instagram? Ou de outra qualquer rede social? Penso que não. Caso tivesse imagino que tivesse publicado algumas selfies que o podiam comprometer. Já estou a ver uma selfie no Instagram a beber umas bejecas com a GNR local como pano de fundo.


So f***ing me

Ontem vi o episódio 23 da 8ª temporada de How I met Your Mother (para quem não conhece é uma série levezinha ao estilo série de humor americana que tem sempre um quê de moral da história em cada episódio). Fiquei absolutamente lamechas com a moral deste episódio, não que me identifique com nenhuma das personagens mas, neste caso, revi algumas das situações que já vivi e senti uma forte identificação com a cena que agora vos relato em resumo.

Ted (protagonista da série) vive mais um período sem qualquer relacionamento enquanto assiste aos preparativos para o casamento entre Robin (sua grande amiga e ex-companheira) e Barney (seu amigo, melhor amigo segundo o próprio Barney).
Enquanto Barney e o seu futuro sogro se divertem e ignoram os pedidos de auxílio camuflados de Robin esta abre buracos ao ritmo de toupeira num relvado público procurando um fio que anos antes enterrara para que servisse de objecto velho que usaria no seu casamento. Desesperada contacta o noivo que ignora o seu pedido. Depois liga a Ted, no momento em que este se dirige para uma entrevista de trabalho importante. Ao perceber a importância da entrevista Robin recua no seu pedido e afirma que não necessita de nada importante.

Pouco tempo depois Ted surge no relvado junto a Robin, tendo faltado à entrevista para dar prioridade à amiga. Ted foi o único que percebeu que atrás de um "não é nada de importante" de Robin se escondia um problema importante.

Será racional relegar para segundo plano situações que podem ter um grande impacto na nossa vida, profissional e pessoal, para auxiliar um amigo com problemas nem sempre muito importantes?
Haverá alguém que mereça ou faça por merecer essa atenção da nossa parte?

No que toca à minha experiência, já levei muito pontapé depois de ter tido este tipo de dedicação e atenção... Começo a duvidar que o comportamento "Ted" seja o melhor para nós próprios.