E quando o mundo se esvazia?

Francisco era um homem quase feliz. Finalmente ultrapassada a dor, guardando a saudade seguia tendo como centro do seu mundo Maria, sua filha. Maria era mais do que o centro do seu mundo, era o seu mundo mesmo.

Quando, pela primeira vez, Francisco aconchegou a sua filha em seus braços, as suas lágrimas desceram sobre a pequena recém-nascida e Francisco vivia a confusão de sentimentos de quem diz olá a uma nova vida e se despede de outra... a sua mulher partiu ao dar à luz Maria e os dois ficaram sós, os dois formaram naquele momento um novo mundo.

Todos os dias Francisco acordava, tomava banho e vestia-se, preparava o pequeno-almoço e depois acordava Maria. Ajudava-a a aprontar-se para mais um dia de escola, tomavam o pequeno-almoço juntos e depois seguiam de mão dada até à escola.

Naquele dia não foi diferente dos outros, ao chegar à porta da escola despediram-se, Maria abraçou Francisco e depois de um beijinho na face dizia "Até logo papá. Gosto muito de ti." e Francisco sorria, respondendo "Até logo Maria. Porta-te bem. O papá também gosta muito de ti.".

Naquele dia não foi diferente, Maria corria a escola até chegar à cantina onde, todas as manhãs, ia dar os bons dias a Luísa, auxiliar que fazia serviço na cantina da escola, Francisco seguia a pé para o trabalho. Poucos metros tinha caminhado quando uma forte explosão se sentiu e Francisco foi empurrado para o chão levantando-se de seguida e correndo para a escola.

Naquele dia houve uma fuga de gás na cantina... Francisco saíu, com Maria nos braços e lágrimas no rosto.

Naquele dia o mundo de Francisco esvaziou.

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