Ao segundo dia de Outubro

O Outono continua a sorrir com um sol ternurento e carinhoso. Depois de um começo cruel, que nos fez perceber que o Verão tinha mesmo acabado, a meia estação assume-se amena e pacífica como que respeitando a queda das folhas no seu leito de morte e os tons pastel que invadem os campos. Espetáculo lindo, faz-nos acreditar que o merecido descanso resultará num renascer cheio de esperança.

Foi num destes dias, já lá vão quase 4 décadas, que acordei para o mundo. Feliz ou infeliz dia, depende do ponto de vista, certamente me trouxe uma forte dose de nostalgia, ou lamechice como queiram. Embalado pelo doce som das folhas caindo, as minhas cores são as suaves como as da estação e a minha passagem pela vida é como o ciclo que agora tem o seu fim. Nascem frágeis essas folhas. Sem certezas. Lutam pela sobrevivência (mesmo quando parece inevitável a morte), renascem plenas de força e energia, para, aos poucos, secarem, adormecerem e depois, libertas dos braços de quem as quer bem, planarem sobre brisas de incerteza até ao poiso final onde são rapidamente esquecidas.

É a certeza de que o ciclo se auto-alimenta, de que não nascemos sem razão, nem partimos sem motivo que me faz acreditar que ao Outuno, onde esmorecemos e partimos, e ao Inverno, onde a memória se perde, se seguirá uma Primavera onde tudo renasce, e aí poderemos assumir novas formas e alimentar novas esperanças.

Assim sou eu, qual Outuno, uma silênciosa revolução, uma nostalgia constante, um folha em trânsito para o seu leito de morte.

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