O cair do pano

Hoje é o dia em que deixo de acreditar nas pessoas. Hoje é o dia que tenho a certeza que a mais dócil das ovelhinhas esconde debaixo da sua lã fofa e suave o mais cruel dos lobos.

Devemos contar connosco próprios, devemos acreditar no que somos e queremos e procurar alcançar as nossas metas sem nos apoiarmos em ninguém, sem acreditarmos em bons samaritanos, altruístas de ocasião que, em grande parte das vezes, nos usam para ultrapassar as barreiras com que se confrontam e depois nos largam quando e onde lhes apetece. Pelo percurso escondem-se na sua pele de ovelhinha, mentem, ocultam, apontam-nos o dedo e arquitectam o plano que nos fará cair.

São esses falsos samaritanos, são esses falsos altruístas que nos fazem desacreditar, que nos fazem cair, arranhar, ferir e nos deixam mais frágeis. Mas é importante perceber que é do fundo que renascem as grandes forças. É nas desilusões que encontramos motivos para procurar, não novas ilusões, mas sim "novas" realidades.

Hoje é o dia em que se revelam as caras, as vontades e os planos. Em que se percebe quem é quem, quem fez o quê, quem pensou o quê.

Não se pense que é um processo do dia para a noite. Não se pense que é coisa do momento, de um instante e que se revelou apenas hoje. É um processo longo, que nos abre os olhos. É verdade que é preciso encaixar todas as peças do puzzle para ter a noção da imagem que surge perante nós, mas também é verdade que à falta de algumas peças já temos noção do que nos espera no final. Por vezes procuramos abstrair, desfocar a imagem parcial, acreditar que no fim seremos surpreendidos mas temos de ser mais pragmáticos. Temos de acreditar no que vemos, sejam imagens parciais ou totais. A realidade é o que é e não o que gostariamos que fosse.

Hoje é o dia em que é preciso erguer a cabeça e dizer basta. Levantar os braços e, a pulso, contando apenas com a minha própria força subir, subir ao mais alto dos pontos e deixar para trás tudo o que nos fez cair.

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