Pamplona e a nobre arte de ser sodomizado por um animal de 600 kilos

Nota prévia: Como em muitas outras coisas tenho uma opinião muito própria sobre a chamada "festa" brava. Em criança habituei-me a ver corridas de touros espanholas e confesso que, à altura, admirava bastante o "espetáculo". Cheguei mesmo a sonhar vir a ser toureiro, matador de touros. Oh meu São José de Alvalade... aqui me penitencio. Com o tempo abri os olhos e percebi que não era boa política meter-me com tipos com os cornos maiores que os meus. Por outro lado percebi que não existe qualquer festa ou espetáculo em algo que tem por base a tortura gratuita de seres vivos (se fosse tortura devidamente remunerada e de acordo com a vontade dos animais nada se poderia condenar).

No entanto, e tendo raízes profundas numa aldeia com uma forte tradição taurina, que não as tradicionais corridas à portuguesa. Tenho alguma compreensão por alguns tipos de tradições que envolvem touros.
No caso sou compreensivo e em certos casos apreciador de tudo o que sejam garraiadas (um pouco por todo o país), encerros e capeias arraianas (aldeias raianas do concelho do sabugal) e encierros (um pouco por toda a Espanha) que não envolvam necessariamente o sangramento e o desrespeito pelos animais.
Sim, é verdade que o animal é sujeito a uma alteração nervosa violenta. Sim, não estão lá de vontade própria. Mas o confronto é mais leal, mais justo e no limite é uma prova de resistência e aprumo físico como muitas outras que conhecemos, quer para o animal quer para as pessoas.

Conclusão da nota prévia: Aprecio o passeio dos animais bravos, de preferência acompanhando-os de perto e a pé. Tudo o que ultrapasse o limite do respeito pelo animal e o que implique o sofrimento físico dos animais não consigo concordar.

Posto isto, os famosos encierros de Pamplona enquadram-se no limite do aceitável.
No entanto, deveriam preparar as ruas por onde passam os animais com terra (saibro), ao jeito do que se faz por terras portuguesas, dado que os animais estão mais sujeitos a lesões e danos físicos ao passarem por ruas calcetadas e/ou asfaltadas. Também procuro ignorar o destino dos animais que participam nos encierros, na parte da "festa" que podia, e devia ser evitada, mas enfim.

Vi, como faço quase sempre, os vídeos das festividades deste ano. E quanto mais vejo, mais tenho a certeza que os animais, bravos e plenos de força e coragem para atacar tudo o que possa significar perigo, não o fazem simplesmente porque percebem que percorrem as ruas com maior densidade de loucos do mundo.
As ruas são totalmente ocupadas por locais e estrangeiros que certamente não têm, na maior parte das vezes, qualquer noção do perigo a que estão sujeitos.
Os animais só não fazem mais vítimas porque efectivamente devem ficar abismados com a fartura. Imagino que seja quase tão difícil ser "corneado" por um touro em Pamplona como é ganhar "El Gordo". A maior parte das vítimas parece-me que não o são, as próprias pessoas "atacam" os animais, estes sim as verdadeiras vítimas, investindo contra as astes afiadas de Miuras e exemplares de outras ganadarias com semelhante arcaboiço.

Ao longo do percurso, que durará em média 2 a 3 minutos, sendo que já chegou a ultrapassar os 10 minutos, existem inúmeros indivíduos que acompanham os touros ao lado, de braço sobre o dorso como se de grandes amigos se tratassem, talvez por solidariedade pela condição de cornudo (muitos dirão - "como te compreendo, a minha mulher também é uma grande vaca!"). Muitos outros atravessam-se na frente dos animais e seguem por alguns metros com a aste do touro apontada ao traseiro no risco iminente de ser possuídos da maneira mais violenta que alguma vez foram (por muito gays que sejam, não creio que a experiência fosse compensadora).

É uma atêntica auto-estrada de loucos suícidas e não posso deixar de compreender o comportamento dos touros. Se eu estivesse no lugar deles também procuraria a todo o custo fugir dali pensando "Dasse... que é esta merda?! Só doidos!! Joga o benfica ou tive muito azar?!"


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