Os austeros palermas

Lá anda a nossa selecção nas bocas do mundo! Felizes que estamos de alcançar as meias do Euro que até subimos ao marquês! Depois de tanto abanão em 1755 possivelmente a última coisa que o Exmo. Sr. Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, queria era servir de poiso a uns quantos plebeus com bafo a sagres e tremoço entoando cânticos de qualidade duvidosa em homenagem ao capitão da selecção.
Já com o Marquês pelos cabelos, ou pela peruca, e com o povo entretido e enfrascado, apitando e gastando combustível como se ele não estivesse pela hora da morte eis que surge, surrateiramente, pé ante pé para não incomodar, o Sr. Ministro das Finanças, Vitor Gaspar ou para os amigos Gasparito "Rapa o tachito".

Já conheciamos o seu tom monocórdico e as suas conferências de imprensa de embalar mas eis que nos surpreende com mais uma iniciativa de mestre... comunicação de más notícias e muito possivelmente mais austeridade no meio dos festejos da vitória portuguesa no Europeu... sim! Do alto do Marquês! Mas sem qualquer meio de amplificação da voz e sempre no seu som monocórdico e de frequências baixas. Capaz de passar desapercebido a um tísico, que como sabem ou ficam a saber, embora seja capaz de expelir os pulmões pela boca, ouve lindamente.

Bom... não terá sido bem no meio dos festejos, muito menos no alto do Marquês mas que foi no tom de voz habitual... e ponham lá a amplificação usada no concerto da Madona que vamos continuar a ter dificuldade de ouvir o Sr.

O problema, ou aliás, a vantagem de fazer comunicações no dia ou nos dias seguintes a uma vitória da selecção é que ninguém vai ouvir! O povo não quer saber da crise! "Nestes dias?! Nem pensar! Até vamos limpar o Euro! Quero lá saber do outro Euro... O Cristiano é o melhor do mundo! Até os comemos!"
E foi por certo nisto que o Gasparito pensou, se bem o pensou, melhor o fez.
Pergunto: Alguém ouviu o Gasparito?!
Não!!!!
Pois lá está, até porque os meios de comunicação social, que o Sr. Miguel "Eu não fiz mas fiz só que não fiz como fiz ou dizem que fiz e para além disso não tenho nenhuma vergonha na cara, nem em qualquer outro sítio" Relvas NÃO controla, NEM influência, muito MENOS ameaça, fizeram questão de passar horas e horas de repetições do golo do Cristiano, e horas e horas de comentários de todos os ex-internacionais de futebol (inclusivamente dos mortos... ah... não espera, era o Eusébio...) o que deixou muito pouco espaço para o Gasparito aparecer.

As notícias não são simpáticas para o governo, mas são menos para nós, a receita fiscal baixou 3,5% nos primeiros 5 meses do ano quando o executivo, e suas mentes brilhantes, calculavam um aumento de 2,8%... Surpreendente!!! Ahhhh!!! Meu maxilar recusa-se a fechar depois de notícia tão surprendentemente chocante!
Obviamente que seria de esperar. Logo na altura do aumento do IVA eu, como milhares ou talvez milhões de leigos e menos leigos na matéria, pensei: "Aumentam a taxa, reduz o consumo, vão ao buraco..."

Mas eu sou um leigo, estes senhores não, são notáveis pensadores e estudiosos.
Assim sendo, por certo irão encontrar outra justificação para a queda da receita. Possivelmente foi o inverno pouco frio que provocou diminuição de compras de produtos sazonais... Se não foi isso foi outra coisa qualquer e por certo aplicarão a mesma receita novamente, mais austeridade, mais imposto, menos subsídios, etc, etc ,etc...

Este comportamento comum a muitos, senão todos os políticos e governantes, faz-me recordar o que fazia quando era petiz.
Tinha uma luz de presença no quarto para me poder levantar durante a noite sem incomodar o meu irmão. Noites havia em que me esquecia de ligar a luz. Já depois de todo o quarto estar à escuras, lembrava-me da dita e tentava ligá-la usando apenas o tacto. Colocava dois dedos sobre os terminais da lâmpada, descobria os encaixes da tomada pelo tacto e depois os dedos serviam de guia e bastava ser rápido o suficiente a afastá-los para não apanhar choques.
Este esquema durou pouco, até ao dia em que apanhei um valente esticão. Com a mão dormente e uma vontade de ficar acordado durante uma semana decidi que o método não era apropriado e não o devia usar mais.

As diferenças entre a minha história e a do (des)governo nacional são:

1- Eu aprendi com o choque e deixei de recorrer ao método do tacto (apenas para ligar luzes de presença claro...). Estes senhores não aprendem, usam a mesma solução vezes sem conta sempre com o mesmo resultado. Estes senhores metem os dedos na tomada e deixam-se ficar.

2- Fui eu que sofri as consequências de uma solução errada. O choque doeu-me a mim e a mais ninguém. Estes senhores nunca sofrem a consequência do choque. Talvez por isso ainda não tenham aprendido que não devem meter os dedos nas tomadas.

Para estes ilustres pensadores e decisores deixo a mensagem - Tenham vergonha na cara!
Quanto ao povo que se pendura no Marquês... deixo-vos um aviso, quando acabar o Euro 2012 e decidirem voltar a acordar, puxem as calcinhas para cima... e não se preocupem que é natural a dor no esfíncter, com o hábito deve deixar de incomodar.

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