Paradoxo dos lugares comuns

"O mal não és tu, sou eu. Não te mereço."

Haverá frase mais desprezível? O que se espera receber de resposta quando se diz uma coisa destas? Será "Tens razão. És uma bela merda e eu ando a perder o meu tempo!"
O problema deste tipo de desculpas para minimizar os danos de qualquer rotura ou discussão é a não percepção do remetente da dor do destinatário senão, vejamos.
Está o indivíduo X a romper uma relação com o indivíduo Y. A dor de Y deve-se ao sentimento de perda relativamente à pessoa que X representava, pouco importa o que é agora ou que passará a ser, importa que o indíviduo Y é confrontado com a notícia "A pessoa de quem tu gostavas não existe mais.". É duro. E para reduzir a tristeza de Y o que podemos dizer? Por certo não é a melhor opção dizer qualquer coisa como "Olha... a pessoa de quem gostavas não existe. Nunca existiu. Era uma fachada porque no fundo quem existe sou eu e não te mereço. E para mais, tu és perfeito!".
Pior que isto só acrescentar "Não terás dificuldade em arranjar outra pessoa, é fácil gostar de ti.".
Isto aplicado a uma mulher ainda soa pior, é mais ou menos como lhe dizer "És tão fácil que qualquer um te engata." mas como não sou sexista acho que também soa bastante mal quando aplicado no sentido inverso.

Numa primeira análise a questão de quem sofre será sempre "Se o problema não sou eu e sou assim tão apetecível então porquê? Quem decide o que quer sou eu, não são os outros."
Mais para frente no tempo vai percerber que foi enganada e comecerá a sofrer por isso mesmo.
Deixando correr o tempo, e com um bocadinho de sorte e capacidade de análise, chegará à conclusão óbvia "Há males que chegam por bem e realmente não me merecia.".

Ou seja, por paradoxal que pareça a pessoa que usa a referida frase acaba por acertar.


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