Coisas de miúdos (I)

Os três amigos passaram a manhã intrigados com a ausência de João. A cada intervalo entre as aulas de hora a falta de notícias fazia aumentar a preocupação. Eram outros tempos, não existiam telemóveis e as más notícias corriam quase à mesma velocidade que todas as outras.
Nas suas cabeças pairava a ideia de um agravamento do estado do irmão mais novo de João. Tinham conhecimento da sua luta contra um problema oncológico mas desconheciam pormenores pois era um assunto evitado nas suas conversas.
No fim do dia de aulas optaram por visitar o amigo. A medo agruparam-se em frente da porta da casa de João, dois à frente e um terceiro mais atrás, tocaram timidamente no botão da campaínha.
Quando a porta se abriu e os olhos inundados de João se revelaram não sobraram dúvidas do que teria acontecido. O irmão mais novo de João adormecera para sempre, vencido de cansaço da luta que travava com o monstro que nele habitava.
A troca de palavras foi breve. Como é que crianças de 12 anos sabem como reagir a uma situação destas? A amizade era enorme mas a maturidade não permitiu que os gestos a transmitissem nesse momento.
Despediram-se do amigo, sem saber o que fazer. Estavam em choque quando, numa última frase, o rapaz que se mantinha mais atrás surpreende o grupo - "Xau. As melhoras para o teu irmão."

Bolas... as crianças são lixadas...

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