De coração cheio!


O Porto e arredores trazem-me a infância. Os tempos em que os meus avós viviam na Maia e tinham uma pequena mercearia em Leça. As férias passavam quase sempre por uma visita ao norte.
Lembram-me as birras na tentativa de impedir as saídas ao cinema ou para jantar dos meus pais. As fancesinhas e o sabor da pronúncia do norte. As mousses Alsa da minha avó. A praia de Leça, a palmeira do jardim dos meus avós. Os amigos de antes e os de agora, os que já partiram e aqueles com que espero contar durante muitos anos.
Lembram-me o meu avô e as saudades que tenho dele.

Depois de alguns anos, bastantes, de "afastamento" da Invicta novos ou reatados laços de amizade trazem a cidade para mais perto e há muito que tenho para descobrir.
O sábado passado fica marcado como o início da descoberta.

É certo que a cidade não se esgota num jogo de futebol mas, no sábado, foram os 90 minutos de bola que serviram de pretexto para regressar ao Porto.
24 anos atrás viajei sozinho de autocarro até ao Porto para assistir, pela primeira vez ao vivo e a cores, a um clássico Porto - Sporting. Estádio das Antas, 25 de Novembro de 1990, entrei com o meu avô, bancadas sem cadeiras onde cabia sempre mais um, passámos o jogo de pé porque era impensável sentar. Entrei no topo do estádio e a bancada parecia completa, apertámo-nos numa das filas de topo mas, aos 15 minutos de jogo, já tinhamos sido arrastados para o meio da bancada.
Nem dei pelo tempo passar. Saí triste de morte... com dois golos o meu clube saiu vergado das Antas. O meu avô, simpatizante do FCP, disse-me "Hoje também fico triste porque preferia muito mais que o meu neto tivesse saído daqui feliz."

No sábado saí de Lisboa com as mesma borboletas na barriga de há 24 anos, mesmo já tendo visto dezenas de jogos desde então.
Desde do acordar até ao ao deitar, mais de 650 kms percorridos, reencontro com os amigos e o regresso à casa do FCP para ver o meu Sporting.
Como já disse em vários locais e repito aqui, senti-me em casa. O companheiro de viagem, os amigos que nos receberam tiveram por certo toda a responsabilidade nesse sentimento.
Também o resultado final do jogo garantiu que me sentisse ainda melhor, tenho por isso que elogiar o grande empenho da equipa do Sporting. Os jogadores deram tudo, a equipa técnica revelou muita qualidade, inteligência e conhecimento, os adeptos estiveram incansáveis no apoio e por isso também me senti em casa. Este é o meu Sporting, é este o caminho, é este o meu orgulho.
Mas não é pela vitória em si que me sinto assim. Reconheço que é óptimo vencer. Reconheço que estou contente e orgulhoso mas os meus pés continuam a tocar o chão. Seria pouco inteligente não o fazer. Não confundam este orgulho com a arrogância de quem acha que já ganhou tudo. Há coisas que não se explicam, sentem-se. E o Sporting sente-se.

Não posso, nem quero terminar esta pequena partilha sem ser justo para todos aqueles que, sendo adeptos do FCP, nos receberam em "sua casa". Devo dizer que o Estádio do Dragão me encheu as medidas. Belíssimo. Um enquadramento com a cidade e o rio fantástico, uma estrutura bem pensada e elegante onde sabe muito bem ver um jogo. Confirmei a opinião que tinha que era apenas fundamentada no conhecimento do exterior do estádio. É sem dúvida o mais bonito estádio português (ainda não conheço o estádio de Braga e posso estar a cometer um erro mas assumo os riscos).
Quanto aos adeptos, no geral, não notei diferença para o comum dos adeptos que conheço de Alvalade. Isto leva-me a crer que as "guerras", "ódios" e comportamentos incorrectos serão exclusivos de uma pequena minoria, que, por azar de todos nós, conseguem ter mais visibilidade e poder do que a restante maioria dos adeptos.



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