Pai, tu fumas?!

A pergunta já não era original mas escorreu da sua boca, palavra por palavra, como se temesse a resposta. "Mas porque perguntas? Não falámos já disso?" "Sim pai. Mas eu não percebi... Tu fumas?"
Retorqui novamente, procurando atalhar caminho para o fim da conversa mas estava decidida a ter uma resposta "Mas tu fumas?".
É nestas alturas que aquela personalidade forte numa criança de oito anos nos encosta à parede e desejamos que, por um momento só, regresse à inocência de bebé para que a possamos iludir com facilidade mas é tarde demais... não há fuga possível.

Respondi calmamente "Sim, fumo de vez em quando, mais quando estou com os amigos.". Nessa altura o beicinho instalou-se na sua cara de princesa e atirou já com os olhos inundados e a mágoa nas palavras "Estás a mentir-me!".
Desarmado, de coração a quebrar, tentei defender "Mas nós já falámos disso... expliquei-te..." "Mas eu não percebi... Tu estás a mentir-me! Tu não fumas! Tu nem tens tabaco!".
Sentei-a no meu colo, os seus olhos não tocavam os meus e as lágrimas escorriam num rosto de criança magoada. Senti a dor, o medo que a arrasava e me arrasou a mim.
"Meu amor, não te estou a mentir. O pai explicou..." interrompeu-me repetindo a cada intento meu de prosseguir "Mas fumar faz mal!"

Não é possível argumentar. Efectivamente tem toda a razão. Efectivamente Fumar é um acto muito pouco inteligente. Mas a maior preocupação não era desculpar-me ou justificar o injustificável. A maior preocupação era conseguir retirar-lhe do pensamento o medo evidente do mal que o tabaco me pode fazer.
Não acredito que o tenha conseguido fazer... é inteligente demais para poder esquecer ou ignorar os perigos.

Enquanto pai foi, sem dúvida, uma das experiências mais duras que tive. Senti que magoei a minha princesa, o meu maior amor... bolas... conseguem imaginar o que custa?

Sem comentários: